terça-feira, 3 de maio de 2011

QUEM ESTA A FIM DE OFICINAS DE CINEMA?

 


  Mostra CineSesc Maio     Os Personagens de Kieslowski

12, 13 e 14 de Maio
Sempre às 19h30
Sesc Cascavel – Rua Carlos de Carvalho, 3367 – Centro.

Filmes:

Dia 12 (Quinta-feira) – A Cicatriz, 1976, dir. Krzysztof Kieslowski, 102 min.
Dia 13 (Sexta-feira) – Cinemaníaco, 1979, dir. Krzystof Kieslowski, 117 min.
Dia 14 (Sábado) – A Dupla Vida de Véronique, 1991, dir. Krzystof Kieslowski, 93 min.
*PARTICIPAÇÃO GRATUITA
*Debate técnico após as exibições.


Oficinas de Cinema - 14 de Maio – Sábado


Oficina Manhã – Direção II
Conteúdo: Produção – (Iluminação, Lentes) Mise-en-scène, continuidade, som, direção de equipe. Direção de Arte.  
Horário - Das 09h às 12h
Local - Salão Social – Sesc Cascavel.

Oficina Tarde – Grandes Diretores – Stanley Kubrick
Horário - Das 14h às 17h
Local - Salão Social – Sesc Cascavel.

PARTICIPAÇÃO GRATUITA
*Vagas limitadas
*inscrições pelo e-mail lysianebaldo@sescpr.com.br ou fone 45 3225-3828.


Sobre Kieslowski e sobre os filmes da Mostra

O diretor polonês Krzysztof Kieslowski possui em seu currículo uma vasta mas coesa filmografia. Tornado célebre especialmente por sua Trilogia das Cores ("A Liberdade é Azul", 1993; "A Igualdade é Branca", 1994; "A Fraternidade é Vermelha", 1994) e pela série de curtas Decálogo (1988), uma das mais prestigiadas coleções do cinema, o diretor mantém em seus trabalhos um tom marcante de sensibilidade psicológica e consciência social. Seus personagens são densos, às vezes mesmos tensos, mas, pintados com cores leves que os humanizam, parecem aproximar-se do espectador no que temos de mais comum, ordinário e simples.
         A primeira fase da produção do diretor é conhecida como a fase polonesa de sua produção: Kieslowski se forma jovem na escola de cinema de Lodz e parte para a realização de documentários em que já se percebe o tom sensível e crítico que iria se desenvolver em seus posteriores longas de ficção. "Sete Mulheres de Diferentes Idades" (Siedem kobiet w roznym wieku, 1978) e "Curriculum Vitae" (Zyciorys, 1975), entre outros de seus documentários, retratam as dificuldades e contradições da Polônia da época sem obscurecer a personalidade dos sujeitos representados.
         A Mostra "Os Personagens de Krzysztof Kieslowski" inicia com um dos primeiros grandes filmes de ficção do diretor; e também um dos mais polêmicos. A exibição de "A Cicatriz" (Blizna, 1976) foi proibida em seu país de origem por conta das implicações sociais da crítica inserida na narrativa que conta a história de Bednarz, funcionário escolhido para tocar a construção de um grande complexo petroquÍmico em uma pequena cidade. Bednarz conhece a cidade e tem grandes planos para a instalação da fábrica, mas seu otimismo é podado pela dura realidade dos interesses dos grupos envolvidos e da crueza da vida cotidiana dos habitantes da cidade, alheios a seus planos idealistas. O filme continuou proibido durante toda a vida do diretor, e sua exibição marca a vitória da criatividade de Kieslowski para falar de temas caros, ainda que sensíveis, para a vida de seus conterrâneos.
         A temática do personagem oriundo da classe trabalhadora que se vê às voltas com a percepção de sua própria condição social retorna à tona em "Cinemaníaco" (Amator, 1979), em que Kiselowski retrata a descoberta do cinema por um simples operário. Munido de sua câmera de filmar, comprada para registrar o nascimento da filha, Filip Mosz acaba sendo convidado a realizar um filme sobre a fábrica onde trabalha. Mosz se torna obcecado pela cinematografia, e ao mesmo tempo em que a nova paixão o liberta da vida comum da Polônia, também o afasta da mulher, preocupada com os problemas cotidianos; ao mesmo tempo, também, ele descobre que o projeto ingênuo de apenas registrar a realidade esbarra nas subjetividades e pressões sociais que se opõem à beleza do ato de filmar. A metalinguagem e a reflexividade do filme encantam e supreendem, pois nos identificamos com a ingenuidade de Mosz mas também nos indignamos com os rumos frustrados de sua empreitada utópica.
         Por fim, a Mostra se encerra com mais um personagem às voltas com sua própria personalidade e que tem, em seu caminho, a figura decisiva do acaso: em "A Dupla Vida de Véronique" ( La Double vie de Véronique/Podwójne życie Weroniki, 1991), conhecemos a história de Weronika e Véronique, duas mulheres idênticas, nascidas no mesmo dia, mas em lugares diferentes. Ambas são vividas por Irene Jacob, atriz francesa que mais tarde trabalharia com Kieslowski em "A Fraternidade é Vermelha". Elas não se conhecem, mas suas vidas influenciam uma à outra: Weronika, como Véronique, adora cantar e sofre de um problema do coração. Após um furtivo encontro, Weronika morre durante uma apresentação de canto lírico, e a vida de Véronique muda como se aprendesse com os erros da outra. Kieslowski volta a tratar de personagens cujas vidas mudam por um sopro de acaso, e cujas mudanças são, essencialmente, internas: é na estranha sensação do duplo de Véronique que reside toda a beleza de suas mudanças e o incômodo causado ao espectador a respeito de sua própria condição de conexão com o mundo.
         Os personagens de Kieslowski não realizam grandes feitos, não mudam a história, nem mesmo derrubam governos; é na pequenez de suas vidas que as grandes e subversivas idéias se realizam. Seja na ingenuidade de um apaixonado pela imagem em movimento, seja no idealismo de um trabalhador, ou na melancolia de uma jovem que se sente triste por não estar só, Kieslowski cria personagens muito próximos, incomoda e paradoxalmente, de nossos próprios personagens reais.